21.6.19

Ray Bradbury, Fahreinheit 451, 1951











"Temos de dar concursos às pessoas em que elas ganhem, recordando as letras das canções mais populares ou os nomes das capitais dos estados ou quanto cereal produziu Iowa no ano passado. Temos de as encher com dados não combustíveis, atravancá-las com tantos «factos» até se sentirem empanturradas, mas absolutamente «brilhantes» com informação. Então, sentirão que estão a pensar, terão uma sensação de movimento sem se moverem. E ficarão felizes, porque os factos deste tipo não mudam. Não se lhes pode das matéria escorregadia como filosofia ou sociologia para relacionarem as coisas. Isso causa melancolia."




(...)



"Seria engraçado se não fosse grave. Você não precisa de livros, precisa de algumas coisas que dantes vinham nos livros. (...) O mesmo pormenor infinito e a mesma consciência podiam ser projectadas através dos rádios e televisores, mas não são. Não, não, você não procura livros! Vá buscá-la onde a puder encontrar, nos velhos discos fonográficos, nos filmes antigos e nos velhos amigos; procure-a na natureza e procure-a dentro de si. (...) A magia está apenas naquilo que os livros dizem, como coseram os pedaços do Universo de molde a fazerem uma peça de vestuário para nós."




(...)




"Não pode garantir esse tipo de coisas! Afinal, quando tínhamos todos os livros de que precisávamos, continuámos a insistir em procurar o penhasco mais alto para saltarmos. (...) Os livros servem para nos lembrar que somos burros e idiotas.  São a guarda pretoriana de César, a sussurrar, enquanto a parada brada pela avenida abaixo. «Lembra-te, César, tu és mortal.» (...) Não peça garantias. E não espero ser salvo em nada, (...). Faça a sua própria salvação e, se se afogar, pelo menos morrerá sabendo que se dirigia à costa."







19.7.18

not the falling star on somebodies night
but the morning star, sparkling through the days

20.9.12

4.9.12




"Chigalev

- Tendo-me consagrado ao estudo da organização da sociedade futura, cheguei à conclusão que, desde os tempos mais remotos até aos nossos dias, todos os autores de sistemas sociais só têm dito asneiras. Foi portanto preciso que eu construísse o meu próprio sistema de organização. Ei-lo! A minha obra na verdade não está concluída. Tal como está, necessita no entanto já de ser discutida. Além de que eu tenho de explicar-vos a contradição à qual fui levado. Partindo da Liberdade ilimitada, cheguei, com efeito, ao despotismo também ilimitado.

(...)

Lipoutine

- Sim. Ele propõe dividir a humanidade em duas partes desiguais. Um décimo, aproximadamente, gozará a liberdade absoluta e terá uma autoridade ilimitada sobre os outros nove décimos que deverão perder a sua personalidade e tornarem-se numa espécie de rebanho. Mantidos na submissão cega, de carneiros, eles atingirão, em recompensa, o estado de inocência de esses interessantes animais. Em resumo, será o Éden, com a diferença que será preciso trabalhar.    



Chigalev

- Sim é assim que consigo a igualdade. Todos os homens serão escravos e iguais na escravatura. De outra forma não podem ser iguais. Portanto é preciso nivelar. Baixaremos, por exemplo, o nível da instrução e dos talentos. Como os homens de querem sempre elevar-se, é preciso infelizmente cortar a língua a Cícero, arrancar os olhos a Copérnico e apedrejar Shakespeare. Eis o meu sistema.

Lipoutine

-Sim, o sr. Ghigalev descobriu que as faculdades superiores são germes de desigualdade, portanto de despotismo. Desde que se descubra que um homem tem faculdades superiores, ou se abate ou se enclausura. Até as pessoas muito belas são suspeitas pelo mesmo motivo e é necessário suprimi-las.

(...)

O Seminarista

- Mas você está em contradição. Uma tal igualdade, é o despotismo.

Chigalev

- É verdade, e é isso que decepciona. A contradição desaparece porém se dissermos que um tal despotismo, é a igualdade."



Camus, Albert. Os Possessos.  ed. Livros do Brasil, Lisboa, 2003, pp.185/188.

6.2.12

4.2.12

apontamento





                                                                       rascunho de novembro de 2011








                                                                                                   desenho em progresso.





memórias fotográficas



fotografias de fotografias antigas escolhidas entre outras memórias, as duas primeiras tiradas com uma máquina emprestada que esteve comigo durante um ano e que foi difícil devolver, impressas em papel brilhante, foi complicado regista-las, não correspondem totalmente ao que na verdade são.




                                                            Catarina, 1998





               Auto-retracto, 1999 (e 2012)






                            cavalo alado, 2003